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Ilha da Fantasia


Há muito tempo, quando ainda morava em Brasília, fui encarregado de mostrar a cidade a um Canadense, que veio ao Brasil a serviço do Consulado de Quebec. Num sábado, fiz com ele o roteiro de sempre, Catedral, Congresso, Itamaraty, Memorial JK, ao final fomo almoçar e eu perguntei o que tinha achado da cidade. Muito polido, o Canadense elogiou muito a arquitetura que tínhamos visitado, mas estava perplexo com o conceito da nossa capital. Pedi que ele explicasse a perplexidade, ele disse que no Canadá a maior dificuldade era manter os seus políticos focados na realidade do povo e do país e que aqui no Brasil nós tínhamos criado uma ilha para isolar os políticos do resto do país. Me perguntou qual tinha sido o processo que culminou nessa solução, eu perplexo respondi que tinha sido ideia de um arquiteto comunista. Aí ele disse ok, e encaramos a picanha que acabava de ser servida.

A partir desse almoço minha visão de Brasília como símbolo da nossa ousadia e capacidade de inovação deu lugar a uma visão mais realista e mais cética. Brasília era uma ilha da Fantasia para quem lá estava, altíssimos salários, mordomias e privilégios de toda ordem, negociatas de todos os calibres, muito dinheiro, muita grife, muita breguice. Para o Brasil, entretanto, Brasília nada mais era que uma Ilha do Pesadelo, onde não se produz nada e de onde sai tudo que agride o bom senso do brasileiro, corrupção, privilégio e cinismos. O tempo passa e muito pouco coisa muda em Brasília. O que tem saído de Brasília? Lei de Abuso de Autoridade, Aumento do Fundo Eleitoral, sentenças exóticas para soltar ladrões endinheirados, licitação de lagosta para almoços de funcionários públicos, artifícios para driblar o teto de salários públicos, salvo conduto para juízes e agregados não serem investigados pela Receita Federal, bom a lista é longa. E, como tudo de ruim sempre pode piorar, aparece agora o livro de memórias do Ex-Procurador Geral da República, o Dr. Rodrigo Janot, para reforçar o dito popular, “desgraça pouca é bobagem”.

O Dr. Janot foi, talvez, o mais controverso dos Procuradores Geral que já tivemos. Ex-Presidente da Associação Nacional dos Procuradores Federais, foi o vencedor de duas listas tríplices, que o conduziram à Procuradoria Geral da República. Abertamente ideológico subiu ao poder no momento que o projeto de poder petista começava a fazer água. A Lavajato avançava, sem dó nem piedade, sobre os esquemas de corrupção em torno dos políticos da base aliada petista, empreiteiras e a Petrobrás. O País perplexo via se desnudar aos seus olhos um esquema de corrupção de proporções bíblicas, com tentáculos em diversos países como Peru, Chile, Venezuela, entre outros. Enquanto a Lavajato prendia os “Sem Foro Privilegiado” e as sentenças eram produzidas em escala industrial no Supremo, com o Dr. Janot sentado à esquerda do Presidente da Corte, não saiu julgamento algum. Os processos da Lavajato, daqueles que detinham Foro Privilegiado, jamais foram julgados, enquanto isso, a Suprema Corte começava a treinar o que hoje se tornou a sua especialidade, qual seja, soltar ladrão de dinheiro público, sob as vistas do Procurador Janot e seu olhar de peixe morto.

No seu segundo mandato, a coisa engrossou e o Dr. Janot mostrou a que veio. Após o impeachment da Presidente(a) Dilma e a posse do Temer o Dr. Janot patrocinou a mais desastrosa operação do Ministério Público de que se tem notícia, a delação premiada da JBS. A JBS dos irmãos Baptista, tinha se transformado, no período petista, de um bom açougue em Brasília na maior produtora de proteína animal do Brasil, quiçá do mundo, tudo graças a dinheiro do BNDES, muito dinheiro vale esclarecer. Em negócios que até as pedras portuguesas da Praça dos Três Poderes desconfiavam. Aí, o Dr. Janot começa a investigar a JBS e consegue que os irmãos Baptista, em troca de um acordo de delação premiada, participassem de operações controladas pela PF para pegar os seus parceiros nas maracutaias do dinheiro fácil do BNDES. Nesse ponto, começam os problemas. Ao invés de focar nos Executivos do Banco e do Ministério da Fazenda, ele foca a operação no Temer e no Aécio que não tinham nada ou pouco a haver com o assunto. O Temer tinha seus negócios no Porto de Santos e o Aécio, recém-saído de uma campanha presidencial, tinha pegado dinheiro com todo mundo. A delação da JBS se mostrou um escândalo, não houve nenhuma penalidade aos irmãos Baptista e teve como único objetivo vingar o afastamento da Dilma. Ao final a delação foi anulada e o Sr. Janot sai pela porta dos fundos do Ministério Público, tendo inclusive um auxiliar eu preso por trabalhar para o MP e para os réus.

Quando achávamos que ele tinha se conformado com o limbo da história o Dr. Janot resolve publicar suas memórias, para melhorar a sua desgastada biografia. E nessas memórias aparece a declaração de que saiu armado para matar o Ministro Gilmar Mendes que, segundo ele, difamava sua filha advogada. Aqui temos que fazer uma breve análise do caso. Qualquer pessoa frente a um caso de difamação tem dois caminhos a seguir, o primeiro é ir à justiça em busca de reparação e retratação o segundo modo é ir resolver a coisa por si mesmo, fazendo justiça com as próprias mãos. Não é que o Procurador Geral da República, o guardião de nossas Leis resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Inacreditável, mas o pior é que, ao fim e ao cabo, não fez nem uma coisa nem outra, nem matou o difamador nem o processou, simplesmente amarelou. E agora, o Dr. Gilmar Mendes, o mais odiado ministro do Supremo, está posando de vítima do Ministério Público. A pergunta que me vem é, que tipo de homem é o Dr. Janot, que sai de casa para lavar a honra da filha e não faz coisa alguma sobre o caso? Tipo assim, saiu de casa como Clint Eastwood e voltou como Pablo Vittar cantando “Problema seu”.

Um Pesadelo.

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