Agora é Cinzas
Uma coisa que é senso comum no Brasil é que Carnaval e Presidente da República, quando se juntam, sempre dá problema. Não combinam a liturgia do cargo e o escracho carnavalesco. Um grande exemplo disso foi o Itamar Franco dançando com uma passista, sem calcinha, no alto do palanque Presidencial. A empolgação do Itamar só não produziu mais estragos porque o cerimonial do Planalto conseguiu que a moça não passasse da portaria do saudoso Hotel Glória no Rio. Depois disso o hábito dos Presidentes saírem de cena no Carnaval foi a solução encontrada. Tudo ia bem, até que o Presidente Bolsonaro resolveu ver o clima dos folguedos na internet e, se deparou com a performance da “Chuva Dourada”. Indignado e perplexo resolveu apelar para a moralidade e bons costumes em pleno reinado de Momo. Foi o que bastou para dar início a mais uma batalha dos guerrilheiros do Facebook.
Agora que as cinzas se impuseram e os tamborins vão se calando, algumas conclusões podem ser tiradas. Primeiro é que o Carnaval é tempo de esculhambação, nada é levado a sério, é assim desde que os Portugueses aqui desembarcaram, nem ditaduras e nem a inquisição católica conseguiram moralizar a festa, tornou-se patrimônio imaterial do povo, ninguém mexe. Se fosse possível mudar isso já teriam proliferado país afora os Blocos Gospel, entretanto, ninguém nunca viu um. O episódio carnavalesco, difundido pela Presidência, foi promovido por um bloco paulista, de nome “BloCu”, que sai no centro desabitado de São Paulo. Ninguém segue um bloco com esse nome sem saber o que lhe aguarda. É coisa para iniciados. Se não fosse o Presidente ninguém saberia que existia. No próximo ano eu sugiro à Marinha que leve a família presidencial para a Restinga da Marambaia e corte a internet.
A quarta-feira de cinzas começou com o Mercado de ressaca, a Bolsa caindo e o dólar em forte alta. A moeda americana vem se valorizando no mundo todo e aqui foi impulsionada pela percepção do pouco empenho do Governo com as reformas necessárias para destravar a nossa economia. Não se percebe uma liderança do Governo atuante, o ambiente parlamentar está confuso e difuso, com ninguém identificando alguma tendência predominante. Aos olhos do mercado, isso é um ambiente instável demais para se enfrentar a quantidade de problemas que nos aguardam.
A comunicação do Planalto continua deficiente, a cada fala do Presidente são necessários uma equipe de tradutores das suas intenções. Esse problema deriva da preferência do Presidente por comentários curtos destinados às redes sociais, muito apreciados pelo seu eleitorado. Com um microfone na mão, e sendo ouvido por todos, essa linguagem não se mostra adequada. Um Presidente falando tem que deixar claro o que pretende. A fala presidencial é uma diretriz para a população, não tem espaço para as maluquices da Dilma nem para mensagens de difícil entendimento como as do Bolsonaro.
A última performance é a fala em que ele define a Democracia como uma dádiva das forças armadas. O Presidente tentava, sem sucesso, mostrar o malefício dos militares da Venezuela ao se posicionarem em favor da Ditadura e impossibilitando a volta da Democracia. Tropeçou nas palavras e aborreceu inclusive aos militares. A época dos improvisos tem de ser enterrada. A Democracia é uma decisão do povo, os militares podem se opor a isso, mas não podem impedir essa vontade, se assim fosse, o período do Presidentes Militares não teria terminado. Os militares não voltaram aos quartéis por vontade própria, voltaram porque o povo foi para as ruas lhes dizer basta. O povo brasileiro é paciente, mas quando sai de casa faz história, foi assim com as Diretas Já, Fora Collor e Fora PT. Não subestimem o brasileiro sambando bêbado e vestido de bailarina no Carnaval, esse povo derruba governos.
Mesmo com o país parado, o trabalho da justiça vem mostrando resultados surpreendentes. O operador do PSDB e sua filha foram condenados novamente a penas pesadas e o Ministério Público mapeou a movimentação de grandes tucanos em torno do Ministro Gilmar Mendes, culminando com o pedido de sua suspeição para o caso. O Presidente Toffoli terá que descascar esse abacaxi. Sobre ele também se levantam várias suspeições do mesmo calibre. O trabalho da justiça vem, lentamente, colocando luzes sobre a politização da Suprema Corte. Existe uma preocupação grande com os movimentos do Supremo que vem transferindo para a justiça eleitoral os casos de corrupção sob sua tutela. É notório e sabido que a justiça eleitoral não tem estrutura para cuidar disso o que implica na maior possibilidade de prescrição dos crimes dos envolvidos. Talvez a confusão com Gilmar evite a continuação dessa estratégia. A conferir.
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