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Na calada da noite


O Texto base da Reforma da Previdência foi aprovado pela Câmara, na noite da última quarta-feira, com uma votação que surpreendeu até o mundo político. Essa votação expressiva tem várias razões que foram aparecendo durante as negociações que antecederam a votação. A primeira razão foi o surpreendente apoio da população à reforma, as últimas pesquisas mostraram que mais da metade dos entrevistados apoiavam as medidas por entender que elas além de necessárias diminuíam o poço de privilégios que é o nosso sistema previdenciário. Na mesma semana. estudo do especialista em previdência, Paulo Taffner, mostrou um comparativo dos nossos custos previdenciários com outros países mundo afora. Esse estudo traz resultados assustadores. Em grandes números, o Brasil gasta com pessoal e previdência algo em torno de 80% das suas receitas tributárias, enquanto nossos vizinhos como Argentina e Chile gastam em torno de 40% e os EUA e países Europeus oscilam entre 50 e 60% das suas receitas. Esses dados mostraram um Brasil imobilizado, sem recursos para investimentos e incapaz de influir no tão ansiado desenvolvimento. Essa visão da realidade brasileira e o apoio da população levaram os Deputados a fornecerem um apoio recorde para a Reforma. A oposição ficou totalmente isolada, praticando um discurso completamente descasado da realidade e descompromissado com a solução de nossos problemas. Foi patético a cena da oposição, com suas faixas e cartazes isolada e sozinha no canto esquerdo do plenário. Votado o texto base, se iniciou a votação dos destaques e na madrugada de quinta para sexta, três destaques foram votados que atendem a grupos de interesses corporativos. A calada da noite é a hora dos ratos, é quando os interesses da maioria são surrupiados em tenebrosas transações. Um dos destaques melhorou a condição de aposentadoria para os professores, os inúmeros sindicatos conseguiram convencer os Deputados. Mas vejam vocês, as cantineiras e faxineiras escolares, fazem um trabalho mais pesado que o dos professores, ganham bem menos e não foram lembradas quando da melhoria para os seus colegas professores. Essa é a obra dos ratos da madrugada, não conseguem tratar todos com igualdade e isonomia. Quando o dia amanheceu, nada mais podia ser feito, os fatos estavam consumados, sem que ninguém saiba quem são os responsáveis. A mídia pouco fala na essência das alterações. O povo dorme achando que as coisas foram acertadas e acorda com uma outra realidade, onde quem pode mais chora menos. Esse tipo de coisas tinha que acabar. Infelizmente, hoje sexta, a votação dos destaques continua e esperamos que o governo reaja e impeça outro espetáculo deprimente como o de ontem. A votação da Reforma agradou ao mercado financeiro, a Bolsa subiu, o dólar caiu, mas a economia real continua estagnada. O mercado se anima com a possibilidade de reversão do quadro de imobilidade do governo, pensando no futuro. O dia a dia do povo continua muito duro, a economia crescendo muito pouco, quase parada, o endividamento das pessoas aumentando, muita desesperança. A semana da aprovação da Reforma termina com o Mercado financeiro feliz com o futuro e o povo lutando para sobreviver a mais de um dia. No meio de toda essa discussão o Presidente Bolsonaro criou mais uma polêmica inútil, ao anunciar a intenção de indicar o filho Senador para a Embaixada do Brasil em Washington. A ideia deve ocupar os noticiários nas próximas semanas. Eu, particularmente, não gosto da ideia. Sem entrar no mérito da capacidade do rapaz, essa nomeação passaria uma imagem de pouco profissionalismo da nossa diplomacia. Mandar um filho para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos passaria a ideia de uma proximidade muito grande com o governo americano, em detrimento das nossas relações com os nossos demais parceiros, mundo afora. Não vi nada de positivo nisso. Além do que eu não confio no Trump como parceiro. O Trump me passa a imagem de um “macaco com faca na mão” ninguém consegue ficar tranquilo perto dele. Infelizmente esse balão de ensaio parece que vai prosperar, mesmo a questão do nepotismo deverá ser superada, afinal temos filhas de Juízes virando desembargadora, esposa de Prefeito atuando como secretária, as exceções são tantas que fica difícil imaginar que vão encrencar com o rapaz. Essa é daquelas coisas que importa mais ao ego da família Bolsonaro do que aos interesses do Brasil. Lembrando que os EUA são um império em declínio, não acho prudente mantermos uma relação tão umbilical com eles. As coisas estão mudando muito rapidamente e a cautela aconselha uma certa equidistância da disputa pela liderança mundial que se avizinha. Mas cautela não é um predicado do atual Governo. Enquanto a cena política ferve a Polícia Federal tem feito apreensões enormes de drogas em volumes nunca dantes vistos e o combate à corrupção não tem poupado ninguém, famílias de doleiros, prefeitos Brasil afora, uma produtividade nunca vista. Devem estar aproveitando o recesso do Judiciário, quando agosto chegar o Supremo começa a soltar todo mundo. Esse filme nós já vimos.

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